Os Sufis são pessoas que buscam o desenvolvimento espiritual, cujas origens nunca foram traçadas nem datadas; nem eles mesmos se interessam muito por esse tipo de pesquisa, contentando-se em mostrar a ocorrência de sua maneira de pensar em diferentes regiões e períodos. Os Sufis sentem-se a vontade em todas as religiões: exatamente como “Pedreiros livres e aceitos”, abrem diante de si, em sua loja, qualquer livro sagrado, seja a Bíblia, seja o Corão, seja a Tora, aceito pelo Estado Temporal.
Os Sufis não são uma seita, visto que não atacam nenhum dogma religioso, por mais insignificante que seja, nem se utilizam de nenhum local regular de culto.
O número de Sufis chega a uns vinte milhões. O que os torna um objeto tão difícil de discussão é que o seu reconhecimento mútuo não pode ser explicado em termos morais ou psicológicos comuns, quem quer que o compreenda é um Sufi.
O Sufismo adquiriu um sabor oriental por ter sido por tanto tempo protegido pelo Islamismo, mas o Sufi natural pode ser tão comum no Ocidente como no Oriente, e apresentar-se vestido de general, camponês, comerciante, advogado, mestre-escola, dona de casa, ou qualquer outra coisa. “Estar no mundo, mas não ser dele”, livre da ambição, da cobiça, do orgulho intelectual, da cega obediência aos costumes ou do respeitoso temor às pessoas de posição mais elevada, tal é o ideal de um Sufi.
Os Sufis respeitam os rituais da religião na medida em que estes concorrem para a harmonia social, mas ampliam a base doutrinária da religião onde quer que seja possível e definem-se os mitos num sentido mais elevado – por exemplo: explicando os anjos como representações das faculdades superiores do homem.
Mais tarde, os Sufis, afirmaram-se iluminados pela experiência real – “quem prova, sabe” – e não pela discussão filosófica.
Para o Sufi a metafísica é inútil sem as ilustrações práticas do comportamento humano, fornecido pelas lendas e fábulas populares.
O caminho Sufi não pode ser compreendido pelo intelecto ou pelo aprendizado livresco comum.
Os Sufis não erigem sistemas como se erigiria um edifício, a fim de que gerações sucessivas possam examiná-lo e aprender com ele. O Sufismo se transmite por meio do exemplo humano.
Uma escola Sufi pode existir, como qualquer outro fator natural, para florescer e desaparecer, e não para deixar vestígios em rituais mecânicos ou sobrevivência antropologicamente interessantes. A função do nutrimento é transmutar-se, e não deixar traços inalterados.
Os Sufis usam os contos (fábulas) em seus trabalhos. A maioria das fábulas contém pelo menos alguma verdade, e elas, não raro, facultam às pessoas a absorção de ideias que os modelos comuns do seu pensamento as impediriam de dirigir. As fábulas, portanto, têm sido usadas pelos Sufis a fim de apresentar uma imagem da vida mais em harmonia com os seus sentimentos do que seria possível por meio de exercícios intelectuais.
O ser humano, de acordo com os Sufis, em vez de esforçar-se por alcançar o próprio interior, a fim de encontrar e atingir o seu desenvolvimento vai procurá-lo fora de si, e persegue ilusões (sistemas metafísicos erroneamente desenvolvidos) que, na verdade o paralisam.
O Sufi preocupa-se com a perpetuação da consciência humana.
RUMI, conta-nos, numa passagem famosa, que o Sufi é:
“Bêbado sem vinho, saciado sem comida; tresloucado sem alimento e sem sono; um rei sob um manto humilde; um tesouro dentro de uma ruína; nem feito de ar, nem de terra; nem de fogo nem da água; um mar sem limites. Possui uma centena de céus e sóis. É sábio através da verdade – e não erudito de um livro”.
O Sufi, de acordo com Sirajudin, “é o homem completo”. Quando ele diz: “entre rosas, sê espinho, entre espinhos, espinho”, não se refere inevitavelmente ao comportamento social. Os Sufis são poetas e amantes. De acordo com o solo em que crescem os seus ensinamentos, são soldados, administradores ou médicos. De acordo com os olhos do observador, podem parecer mágicos, místicos, praticantes de artes incompreensíveis. Se você os reverenciar como santos, será beneficiado pela sua santidade; mas se trabalhar com eles como colaboradores, será beneficiado pela sua companhia. Para eles, o mundo é um instrumento de modelação, que aprimora a humanidade. Pela identificação com os processos de criação contínua, eles mesmos são modeladores de outros homens completos. Alguns falam, outros silenciam, alguns andam de maneira que se diria incessante, outros, sentam-se e ensinam. Para compreendê-los precisamos pôr em ação uma inteligência intuitiva, normalmente sujeita pela sua amistosa inimiga, a inteligência do espírito lógico. Enquanto não pudermos compreender o que é ilógico e sua significância, evitemos os Sufis, a não ser para pedir-lhes serviços limitados, precisos, evidentes por si mesmos.
Fonte: “OS SUFIS”, de Idres Shah.
“Deus na realidade deseja facilitar e não dificultar”.
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